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O "milagre" do superavit comercial, em 1943

 

Ao assistir ao «Estado da Nação», ontem dia 11 de Julho, verifiquei que a História esteve presente. Não me refiro tanto às intervenções de Luís Montenegro, do PSD, ou de Paulo Portas, dirigente do PP e ministro dos NegóciosEstrangeiros, sobre a histórica «resiliência» (como se diz agora» dos portugueses, manifesta desde a epopeia de há 500 anos. Falo do facto de serreferido como um aspecto positivo actual do aumento das exportações e do excedente comercial da ordem dos 0.4% do PIB, registado em Junho de 2012, pela primeira vez no País desde 1943, referido pelo ministro da Economia e pelos telejornais (a começar pelo da RTP), no dia 10.

 

O primeiro-ministro repetiu-o no debate sobre o «Estado da Nação», em resposta a Francisco Louçã que lembrou - e bem - que o ano de 1943 remetia para o salazarismo e para a pobreza. Talvez tivesse sido bom que o ministro Álvaro Santos Pereira e o chefe do governo Passos Coelho, ao referir esse facto histórico, o tivessem contextualizado – caso se interessassem por História – da mesma forma que deveriam contextualizar o aumento actual das exportações privadas e o bom momento da balança comercial de 2012, para se saber se se trata de um facto conjuntural ou, pelo contrário sustentável.

 

Gostaria de utilizar o pretexto para contextualizar o ano de 1943, durante a II Guerra Mundial, em que como se sabe Portugal teve um estatuto de neutralidade que nomeadamente lhe permitiu ter relações comerciais com os dois lados do conflito beligerante, quer com a tradicional aliada, Grã-Bretanha, quer com a Alemanha. De facto a Alemanha nazi, apesar do bloqueio britânico, passou a competir com o reino Unido como principal mercado de destino entre 1941 e 1943, tendo até a primazia nas exportações portuguesas no primeiro daqueles anos.

 

Efectivamente Portugal exportava para a Alemanha dois produtos muito importantes para o esforço de guerra na URSS, invadida em Junho de 1941 – o volfrâmio e conservas de peixe. Devido a esse facto, uma das características das exportações portuguesas nesse período foi a excepcional valorização da tonelada exportada, que constituiu mais de 587% em média, com um “pico”, em 1943, de mais de 1108% relativamente a 1936/1938. O que aconteceu é que, apesar de se terem então vendido menos mercadorias do que antes da guerra e muito menos do que as importadas durante a guerra, o aumento do preço do que se exportava permitiu compensar o desequilíbrio da tonelagem transaccionada de modo que até se conseguiu alcançar saldos positivos da balança comercial entre 1941 e 1943.

 

Tratou-se de um superavit conjuntural, como aliás os próprios elementos do regime salazarista assinalaram, realçando que nessa aparência de prosperidade haveria na realidade uma fragilidade essencial. Fizeram-no com o provável objectivo de evitar qualquer reivindicação de uma melhoria de condições de vida da população portuguesa. Não conseguiram porém esconjurar o enorme movimento de agitação social e grevista que eclodiu nesse anos de 1943 e 1944, apesar de se viver em ditadura e em regime de repressão (Fernando Rosas, Portugal entre a Guerra e a Paz. 1939-1945, 1990).

 

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