Esta não necessita de grandes explicações, está tudo dito.
(as minhas desculpas pelas dificuldades de escuta, aparentemente já está tudo resolvido, graças às skills informáticas da Shyznogud)
Lamento, dor e esperança de quem vai partir, cantados por uma voz a que não é possível ficar indiferente. O texto é do poeta mexicano Andrés Henestrosa, alegadamente dedicado à mãe: a música sobrevive e resiste à morte, "não me chores, porque se chorares, eu sofrerei; pelo contrário, se cantares, eu viverei e nunca morrerei".
Um espanto, um arrepio, uma completa surpresa, por um instrumento que tinha por antipático e desagradável; contrastes, agudos e compassos; e uma reta final.
A música enquanto expressão máxima, delicada e profunda, do amor, envolvendo emoções, sentimentos e afetos. Esta é um diálogo entre um homem e uma mulher: ele declara-se apaixonado e lamenta a juventude perdida; ela hesita e responde, numa falsa firmeza que lhe basta o olhar. Mas acaba por ceder: "condannomi, perdonomi, fra speme e fra timor, ma pur tutto abandonomi nelle tue mani, Amor" (condeno-me, perdoo-me, entre a esperança e o medo, mas coloco-me totalmente nas tuas mãos, Cupido).
Esta rivalizou com a "menina dos olhos tristes"; mas preferi uma canção simples de coragem e de esperança em vez de um luto. Uma voz ímpar, única, a mais tocante voz masculina que conheço. Um canto de uma época que não vivi, mas que interpreto através da música: o sufoco, o aperto, o exílio, o desalento e a esperança. "Venho dizer-vos que não tenho medo", mensagem adequada a uma época de regresso de medos que se pensavam exorcizados para sempre.