"Que fazer? quando não queremos viver num país em que milhares (sobre)vivem na rua, milhões (sobre)vivem no gueto do desemprego e de salários miseráveis, em que milhares procuram a «sopa dos pobres» para algumas centenas degustarem em restaurantes-gourmet? Que fazer? quando não suportamos uma sociedade cada vez mais desigual, em que os de cima e os seus acólitos arrogantemente nos dizem que vivemos acima das nossas possibilidades e que temos de empobrecer? Que fazer? quando querem educar-nos para servir os poderosos? Se queremos ser oposição a esta normalidade terrorista do capitalismo real temos de procurar aliados. Mas quem é este «nós»? Pessoas que não perderam a capacidade crítica e gente de todas as esquerdas, que tem como princípio a liberdade na base da igualdade social, gente para quem este princípio não é só um sonho, mas que quer agir e procurar aliados. As Toupeiras"
A conferência “A DITADURA PORTUGUESA. PORQUE DUROU, PORQUE ACABOU” é organizada por Irene Pimentel, Jacinto Godinho, José PedroCastanheira e Luísa Pinto Teixeira.
É apoiada por uma Comissão Científica, constituída por Helder Macedo, José Miguel Sardica, Manuel Ennes Ferreira e Rui Bebiano.
Tem como objetivo promover um debate aberto ao grande público, reunindo universitários, investigadores, jornalistas, bem como atores políticos, sociais e culturais da época em análise.
Na conferência “A Ditadura Portuguesa. Porque durou, porque acabou" vai-se debater a caracterização do regime ditatorial e colonial português, o papel das suas instituições, a questão do império colonial e das guerras coloniais, bem como a atuação das diversas oposições ao Estado Novo.
Finalmente analisar-se-à a forma como a Ditadura caiu.
A conferência terminará com a presença dos três ex-presidentes da República da Democracia, Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio.
Por acaso, também fui entrevistada pelos mesmos jornalistas da Rádio francesa, sobretudo acerca da Ditadura portuguesa, e procurei dar essa mesma ideia, também reflectida por Teresa de Sousa, ontem no jornal Público. Concordo com Teresa de Sousa e digo mesmo que gostaria de ter escrito o excerto que abaixo publico. Sou da mesma geração da Teresa e penso que cabe-nos lembrar o caminho que de facto se percorreu desde 1974, quando tínhamos as duas vinte e tal anos, até hoje. Lembrar o que era Portugal antes do 25 de Abril. É o que faz Teresa de Sousa, neste excerto do seu artigo:
«Veio a Lisboa na semana passada uma equipa da France Culture para fazer uma série de programas sobre os 40 anos do 25 de Abril. A jornalista era jovem, competente, procurou informar-se antes de fazer as perguntas. Creio que fui a última entrevista que fez antes de regressar a Paris. Sabemos que a esquerda francesa sempre teve uma visão “romântica” da revolução portuguesa. Mas foi de uma extrema dificuldade explicar-lhe duas ideias feitas que trazia provavelmente de Paris e que viu confortadas pela maioria das entrevistas que fez.
A primeira era que estávamos hoje pior do que no 25 de Abril, por causa da crise. Para ela, e para muita gente por cá, o país anterior à queda da ditadura é uma projecção que nunca foi vivida e que, portanto, só pode ser feita com os olhos de hoje. Quem tem menos de 50 anos não tem a memória viva das coisas. Não era apenas a falta de liberdade. Portugal era um país muito, muito pobre, pouco escolarizado, sem saneamento básico, onde numa qualquer aldeia do interior as crianças iam para a escola descalças, independentemente do frio ou do calor e as suas barrigas eram anormalmente grandes. Os liceus eram um privilégio para as classes médias mais privilegiadas das cidades. A saúde estava acessível a poucos. E lá tive eu de explicar que o nosso Serviço Nacional de Saúde, com crise ou sem crise, estava ao nível dos melhores sistemas europeus. Os números não deixam mentir. Que a taxa de mortalidade infantil, que era uma das piores da Europa, estava hoje abaixo da média europeia. Que, apesar de todas as dificuldades, a esperança de vida das mulheres aproximava-se a passos largos da recordista França. E que isto não se devia a um milagre de Nossa Senhora de Fátima.
Quarenta anos depois, este país está irreconhecível. A crise está a empobrecer- nos de uma maneira que nunca pensaríamos possível. O Governo não respeita nada nem ninguém, quando se trata de arrecadar. A classe média está a pagar a crise praticamente sozinha e a “compressão” dos seus rendimentos é brutal. Tudo isto é verdade, mas todas as crianças vão para a escola com sapatos.»