Apenas para contextualizar. A questão do aborto nos anos 40 do século XX
Nuno Saraiva, hoje num artigo de opinião, no Diário de Notícias, disse tudo o que eu gostaria de dizer. Por isso, cito-o: «O assunto não faz parte da agenda nem da ordem do dia e, tão pouco, ocupa lugar nas preocupações dos portugueses. O desemprego que cresce descontrolado, a economia que não avança, os novos cortes nas pensões e nos salários que aí vêm, a degradação de serviços públicos essenciais como sejam o Serviço Nacional de Saúde ou a escola pública, a falta de dinheiro para pôr comida na mesa é, natural e legitimamente, o que aflige milhões de cidadãos que, porque pobrezinhos, nem sequer se podem dar ao luxo de sonhar com um fim de semana na Comporta para brincar aos ricos (…). Mas há sempre quem seja capaz de surpreender pela desonestidade e ausência de noção do sentido de oportunidade. Nas páginas do Público de ontem, o padre Gonçalo Portocarrero de Almada, ou melhor, D. Gonçalo Nuno Ary Portocarrero de Almada, 4.º visconde de Macieira e sacerdote secular da prelatura do Opus Dei, dedica-se a um exercício, lamentável e chocante, de falta de ética e de honestidade intelectual mas, também, de cobardia. (…) O exercício do sacerdote é pois ética e intelectualmente desonesto porque, na melhor prática estalinista, deturpa e reescreve as palavras de Álvaro Cunhal e ignora deliberadamente a verdade factual de quem defendeu a despenalização da interrupção voluntária da gravidez. Mas é também um ato de cobardia. Ao descontextualizar as palavras do antigo líder comunista, redigidas há mais de 70 anos, Gonçalo Portocarrero sabe que não será contraditado simplesmente porque o autor já cá não está para se defender e repor a verdade». (O artigo está online).
Apenas pretendo aqui contribuir para ajudar a contextualizar o tema, nos anos quarenta do século XX português, e para isso fui buscar excertos de textos por mim publicados.