As economias ocidentais são extremamente dependentes de recursos não renováveis e apesar da aposta crescente nas energias renováveis, as questões de eficiência energética e de gestão da procura são ainda abordadas de forma muito tímida por demasiados países.
Sem targets ambiciosos de redução de emissões nos países desenvolvidos, através da alteração de comportamentos, da generalização de tecnologias limpas e da sua transferência a muito baixo custo para os países em desenvolvimento, muito dificilmente as economias emergentes resistirão a usar as suas abundantes reservas de carvão para responder ao rápido crescimento da procura doméstica de energia.
Em Copenhaga está em jogo muito mais do que um acordo internacional para a redução das emissões de gases de efeito estufa, o que se perspectiva é um confronto filosófico inevitável sobre a interacção entre a espécie humana e o planeta, e os vários povos e os seus descendentes, com consequências profundas e muitas vezes irreversíveis.
A pressão da opinião pública é fundamental para motivar os decisores políticos mais renitentes a assinar compromissos ambiciosos, os únicos que ainda podem ter efeito em tempo útil. Podemos acompanhar aqui algumas das sessões da Conferencia cuja relevância foi muito bem captada na crónica "Enquanto é tempo" de Vital Moreira no Público de ontem.
A ignorância afirma ou nega veementemente, a ciência duvida (Voltaire)
O episódio 4 da série Cosmos, Céu e Inferno, é certamente um dos mais marcantes. Com todo o carisma que o caracterizava, neste episódio Carl Sagan conta-nos como os monges de Cantuária foram testemunhas em 18 de Junho de 1178 de um impacto lunar que alguns cientistas pensam ser o responsável pela cratera Giordano Bruno. Uns séculos mais tarde, em 30 de Junho de 1908, uma explosão abalou a Sibéria, projectando árvores a milhares de quilómetros de distância e produzindo um estrondo que se ouviu em todo o mundo. Sagan parte destas catástrofes naturais para Vénus, cuja atmosfera «infernal», com temperaturas dantescas devido ao efeito de estufa, utiliza para alertar que o nosso pode ser o destino de Vénus. Sagan lança assim, em 1980, um aviso para a necessidade de medidas de protecção do nosso frágil planeta azul.
Os polímeros de síntese são parte tão integrante do nosso quotidiano que a designação «idade dos plásticos» descreveria adequadamente os tempos modernos. Uma das causas do sucesso dos polímeros sintéticos, a sua inércia química e resistência a biodegradação, que contrats com os polímeros naturais como amido ou celulose, é hoje em dia uma das suas principais desvantagens. Na realidade, nos primórdios da era dos plásticos, os polímeros eram desenhados de forma a retardar e prevenir o ataque por fungos, bactérias e outros organismos vivos. Em particular, os polímeros obtidos de hidrocarbonetos como o etileno ou o propileno, são resistentes ao ataque químico e biológico, o que assegura a sua longevidade mas transforma numa dor de cabeça a tarefa de quem tem de dar destino aos resíduos sólidos desta era que além de plástica é também descartável.
Isto é, a durabilidade dos polímeros que no passado era uma vantagem não despicienda, constitui um sério problema para o homem contemporâneo e traduz-se numa enorme quantidade de lixo que se acumula em lixeiras e aterros ou se dispersa no meio ambiente provocando problemas ambientais que podem ser catastróficos. As alternativas, a queima ou reciclagem, nem sempre são soluções para estes problemas, a primeira principalmente por razões sociais/políticas e a segunda porque muitos polímeros, nomeadamente termoendurecíveis, não são recicláveis.
As estimativas da evolução das necessidades energéticas globais e da fatia assegurada pelos combustíveis fósseis mais conservadoras deveriam ser suficientes para que todos percebessemos que as energias renováveis serão as próximas indústrias globais, ultrapassando muito provavelmente as tecnologias da informação daqui a alguns (poucos) anos. Ou seja, se não existem ainda respostas absolutas sobre o que será o novo paradigma energético, há a certeza que o actual, assente nos combustíveis fósseis, não chega para as encomendas.
Por todas estas razões e mais aquelas que o Gonçalo aponta, os países que mais investirem agora em fontes energéticas alternativas beneficiarão de uma vantagem estratégica no futuro próximo, facto a que os nossos dirigentes políticos deveriam estar muito sensíveis (e não há uma linha sobre energia nas políticas de «Verdade»...)