ó gente da minha terra
(propaganda eleitoral na minha terra, no tempo da grande noite socrática)
Este post foi iniciado há umas semanas. Começava assim: "Tempos difíceis, estes. De escolha, também. Autárquica, particularmente." Isto porque os candidatos cá do sítio não me suscitam especial entusiasmo. Nem Basílio, nem Marco Almeida, muito menos o Pinto. Nessa altura, havia saído a primeira sondagem, que dava tudo mais ou menos como hoje: PS rés-vés com o independente. Vai daí, fui buscar uma imagem de eleições anteriores, que recolhi algures perto, com a críptica mensagem que aqui reproduzo uma vez mais.
Bom. Entretanto, a coisa amornou um pouco e eu decidi completá-lo com umas coisitas, poucas, da campanha local. A minha tirada preferida é de um dos vice-presidentes do PSD e candidato local. Esse mesmo, o Pedro Pinto (a quem chamam de "dr.", embora não seja licenciado em coisa nenhuma). Qual o tema? um que me interessa sobremaneira. Não, não é a promessa de abrir uma Feira Popular no concelho, ou de meter os aviões a aterrar na Base Aérea nº 1 (só quem nunca viveu por cá é que acha que se pode enfiar ali os Boeing e os Airbus, talvez fazendo pontaria à Serra). Não. Os passes sociais. Ao fim de dois anos de política de transportes públicos que classifico de verdadeiramente criminosa, anti-social, anti-ecológica, anti-económica, onde os passes sociais foram riscados do mapa, e num concelho onde essa golpada se faz sentir de forma particularmente sensível (digo eu, porque moro aqui), quis saber o que pensa o senhor do assunto. Fiquei esperançado com o título: "Pedro Pinto Defende Passes Sociais dos Sintrenses". E que "defesa" é essa? Ei-la: "É fundamental que os custos que existem nos diferentes passes se possam manter. Neste momento, o nosso grande objetivo é que todos aqueles que são intervenientes em Sintra se mantenham, mas caso isso não seja possível, podermos assegurar alternativas dentro dos mesmos níveis de preço (...)". Perceberam? Eu também não. Quer manter "os custos"? Quer manter "os intervenientes"? Quid? Hello, is anybody in there?
Mas a campanha em Sintra não é só anedotas destas. Também há anedotas das outras. Gosto muito do fadista. Acho que alguém que, só por ser "trineto do 3º Conde de Belmonte" e "bisneto dos Marqueses de Alegrete, Penalva e Terena, Condes de Vilar Maior, Tarouca, Bertiandos e Terena e Visconde de São Gil de Perre", para além, bem entendido, de ser neto da Última Morgada do Vínculo da Nave do Grou, é um vencedor à partida, ainda antes de fazer campanha - na verdade, mesmo antes de nascer. Não era preciso mais. Assim se entende que a sua página na internet arranque "Com o alto patrocínio de Nuno da Câmara Pereira". Patrocina-se a si próprio, é lógico, só alguém de pedigree se pode dar ao luxo de uma destas, qualquer outro faria figuras ridículas.
Por fim, é sempre bom relembrarmos os bons valores da pátria. Nada melhor do que atentar ao candidato do PNR, um ex-militar que se define como "antigo combatente da Guerra do Ultramar". Gostei muito das suas ideias para a juventude: meter os jovens a "acompanhar as Corporações de Bombeiros e as unidades militares do concelho, experiências que os podem ajudar a “saber o que é a disciplina e os horários, a hierarquia”. Emprego e tal, expectativas, realização profissional, cidadania, esperanças e futuro, presumo que sejam coisas que não interessem. Bom. Racista, o PNR? A imprensa inventa cada uma... “Temos que zelar pelo trabalhador português, que está muito dele no desemprego porque houve uma emigração que veio que lhes tirou postos de trabalho”. Certeira, esta: não foi a crise e a destruição da economia que deram cabos dos empregos; foram os pretos, os brasucas e a ciganada que no-los roubaram (e depois deitaram fora, presumo, como se confirma a seguir). Esta impressão de vaga xenofobia acentua-se, não sei bem porquê, ao consultar a própria página da sua candidatura, onde é feita a denúncia, sem paninhos quentes (que, como se sabe, só promovem a preguiça e a marginalidade), dos partidos que "defendem os coitadinhos dos estrangeiros que nos vêm sacar o RSI, o ciganito das casas camarárias e do desvio da luz e água para as suas habitações. Defendem como reinserção social, os cerca de 70% dos Estrangeiros, Imigrante e descendentes que estão presos. Soltam preventivamente os bandidos dos gangs que nos assaltam nos transportes coletivos." Ah fadista. Mais um que nasceu com eles roxos, como o Collor. ( E não percam a fabulosa imagem que por lá anda, plena de lucidez científica e de espírito ecuménico, que associa Maomé a pedofilia).