Dois meses depois do bárbaro assassínio de Salman Taseer, governador do Punjab, foi hoje assassinado o ministro paquistanês para as Minorias, o único cristão do executivo. "Os relatos iniciais são de que ele foi morto por três homens, provavelmente com uma Kalashnikov, mas ainda estamos a tentar estabelecer o que aconteceu exactamente", explicou o chefe de polícia da cidade, Wajid Durrani. Shahbaz Bhatti, que foi morto em plena luz do dia na capital Islamabad, era um firme opositor à lei da blasfémia que vigora no país e que, como todas as leis da blasfémia, serve apenas como arma de perseguição de todos os que não comunguem da religião maioritária.
Pelo menos desde Janeiro que o ministro, como reconheceu numa entrevista à BBC, recebia ameaças de morte pela "blasfémia": "Disseram-me que se eu continuasse a campanha contra a lei da blasfémia seria assassinado, seria decapitado, mas as forças da violência, as forças do extremismo não me conseguem atingir, não me conseguem ameaçar”, declarou na entrevista.
Hoje, os extremistas conseguiram atingi-lo, fatalmente. No local do assassínio a polícia encontrou panfletos do Tehrik-i-Taliban Punjab, um grupo taliban com ligação à Al-Qaeda,que ameaçam de morte todos os que se atreverem a criticar a lei da blasfémia. O terrorismo e violência religiosos continuam a ditar as leis no Paquistão.
Hugo Chávez condecora Khadafi durante um encontro em Porlamar, 2008.
Respondendo às angústias dos muitos que se interrogavam sobre a posição de Hugo Chávez em relação aos acontecimentos na Líbia, na sexta feira o ministro venezuelano dos Negócios estrangeiros, Nicolas Maduro, reagiu em apoio do ditador líbio, ecoando a posição de Fidel Castro (e Daniel Ortega), reiterada numa coluna recente. Ou seja, para o governo da Venezuela o massacre da população líbia não passa de uma conspiração ocidental para invadir o país. No Twitter, Chávez deixou bem clara a sua visão dos acontecimentos e o seu apoio a quem apelidou o Simon Bolivar da Líbia: «Viva Libia y su Independencia! Kadafi enfrenta una guerra civil!!»
Enquanto Fidel Castro arma uma teoria da conspiração mirabolante* em defesa de Kadafi e Daniel Ortega expressa toda a sua solidariedade ao valoroso líder líbio que, através do diálogo (?), tenta unificar o país, Berlusconi informa que na Líbia no pasa nada, só uma insurreição que tem como vítimas as forças leais ao regime. Só falta Tony Blair vir a público explicar que os tais insurgentes escondem armas de destruição em massa...
*com epicentro nos EUA que, por recurso a uma forte campanha mediática, assente nas americanissimas Al Jazeera e Al Arabiya, pretendem invadir a Líbia através da NATO.
Depois de mandar assassinar centenas de líbios que protestavam as 4 décadas de tirania de um louco, Kadafi fez uma fugaz aparição na televisão estatal, saindo de um calhambeque de chapéu de chuva aberto, disse que estava a chover, que os media estrangeiros, incluindo ou principalmente a Al-Jazeera, eram uns cães e que continuava no país. Depois destes alucinados 3022 segundos, retomou-se a programação que mimoseava os espectadores com imagens do louco assassino em poses heróicas com um fundo de música tradicional líbia. E não há quem páre este louco? Onde está uma posição forte de repúdio da UE, dos EUA ou da ONU?
Salman Taseer, governador do Punjab, foi assassinado hoje por, de acordo com as alegações do assassino transmitidas pelo ministro do Interior paquistanês, ser contra a lei da blasfémia vigente no país. Tasser era uma figura destacada no Partido do Povo do Paquistão, o partido de Benazir Bhutto, igualmente assassinada por motivos religiosos, e muito próximo do Presidente Asif Ali Zardari, viúvo de Bhutto. O governador criticou muito veementemente nos últimos dias a lei da blasfémia e pediu perdão para Asia Bibi, na foto, tirada na prisão uns dias após a sua condenação à morte, com a mulher e filha de Taseer. Os líderes de vários grupos religiosos, que convocaram uma greve a semana passada em apoio da lei da blasfémia, denunciaram-no estridentemente como apóstata e acirraram multidões ululantes a queimarem efígies de Taseer durante a greve.
No dia 30 de Dezembro, Taseer postou no Twitter: «I was under huge pressure sure 2 cow down b4 rightest pressure on blasphemy. Refused. Even if I'm the last man standing.» Taseer não se vergou às barbaridades da religião mas o apelo ao ódio daqueles que não querem perder o poder que detêm nesta parte do globo surtiu o efeito desejado: não só silenciaram para sempre a voz mais corajosa em defesa de um estado de direito no Paquistão como encurralaram o governo numa chantagem ignóbil, com a ameaça de secessão do Punjab.
mas isto é vergonhoso: «A diplomacia brasileira se absteve de apoiar uma resolução da Organização das Nações Unidas (ONU) que pede o fim do apedrejamento no Irã e o condena como forma de punição. A resolução ainda condena Teerã por "graves violações de direitos humanos" e por silenciar jornalistas, blogueiros e opositores».
Depois de Asia Bibi, outro habitante de um país islâmico enfrenta uma pena muito dura pelo «crime» de blasfémia. A autoridade palestiniana prendeu um barbeiro blogger de Qalqilya, uma cidade do West Bank. Walid Husayin, de 26 anos, é acusado de ser o ateísta que nos últimos anos chocou a Palestina e o mundo árabe com posts blasfemos, nomeadamente por ter escrito que o Deus do Islão tem os atributos «dos beduínos primitivos» e ter afirmado que o Islão é uma «fé cega que cresce e, onde há irracionalidade e ignorância, se apodera das mentes das pessoas».
Embora muitos exijam a sua execução pública, a sentença quase certa que espera Husayin é a prisão perpétua. O «crime» de que é acusado é «insultar a divina essência», um crime tão inconsubstancial quanto irracional é a religião que exige a morte de quem não acredita e quão bárbaros são os seus crentes literais.
Asia Bibi é uma cristã paquistanesa que foi condenada à morte por blasfémia na segunda-feira. Tal como em relação a Sakineh Ashtiani, é urgente sensibilizar a opinião pública internacional e fazer barulho por Asia Bibi. Para já, podemos apoiar a paquistanesa no Facebook mas seria conveniente organizar algo mais visível. E, principalmente, manifestarmos o nosso repúdio por todas as leis da blasfémia que são, como escrevi há menos de 15 dias, um convite à intolerância.
De acordo com informação recebida hoje pelos International Committee against Stoning e International Committee against Execution, o governo iraniano executará Sakineh Ashtiani na próxima 4ª feira, dia 3 de Novembro. Só temos um dia para tentar impedir a barbárie. E o que podemos fazer? Bem, essencialmente podemos fazer barulho, junto à embaixada do Irão e junto a todos os nossos representantes. Sigam as sugestões indicadas nesta página e comecem a fazer barulho JÁ!
Não admira que o Irão queira rever os curricula das disciplinas de direito e de direitos humanos: para além das execuções públicas, mantidas ao ritmo «normal», são cada vez as execuções secretas, ilegais mesmo à luz do que passa por lei no país. De acordo com Ahmad Ghabel, um erudito religioso preso em Vakilabad no princípio do ano, apenas nesta prisão e apenas durante os 3 meses da sua detenção, foram secretamente executados 50 prisioneiros.