Nas Filipinas, um Éden católico onde nada se faz sem a aprovação da Igreja e tudo segue estritamente os ditames da ICAR, discute-se, pela enésima vez nos últimos 15 anos, uma proposta de lei de Saúde Reprodutiva (RH) que permita acesso a contraceptivos pecaminosos. Como não podia deixar de ser num país que reflecte tão claramente a moral e virtude católicas, a ICAR local opõe-se visceral e vocalmente a esta lei, segundo eles tão criminosa quanto imoral - e tão imoral quanto a Magna Carta que pretendia reconhecer direitos às vis mulheres e não reconhecia a divinamente ordenada dominância do homem sobre a mulher.
Uma das coisas que sempre me intrigou na maioria dos crentes é a a sua total insensibilidade em relação aos outros, quando esses outros não partilham as suas crenças. Essa insensibilidade, aliada a um sentimento de superioridade moral, traduz-se não só no que já discuti no «Divine Impulses», uma incapacidade em perceber os outros, como por vezes provoca atitudes desumanas em pessoas que de outro modo não as teriam.
Esse sentimento de superioridade moral impede-os de perceber que comportamentos «claramente imorais» para a sua religião - usar preservativo como forma de prevenção da SIDA ou o controle da fertilidade, por exemplo -, não o são para mim nem para a esmagadora maioria das pessoas. Ou que outros comportamentos que as religiões afirmam imorais são na realidade amorais, isto é, a moral só começa quando os nossos comportamentos afectam outros agentes moralmente relevantes. Quando não interagimos com nenhum outro agente moral, nenhum dos nossos actos tem qualquer relevância moral.