O seu a seu dono. À (minha tia) Maria Isabel Pimentel
No sábado passado estive numa jornada de confraternização (prefiro o termo a «homenagem») com Nuno Teotónio Pereira. Não tive oportunidade de lhe dar um grande beijo (estavam centenas e centenas de amigos e admiradores de todas as sensibilidades políticas, da esquerda à direita, de ateus a católicos) que aproveito para dar-lhe aqui. Querido Nuno, que conte muitos anos, sobretudo sem sofrimento.
Aproveito também para ser politicamente incorrectíssima, mas acho que esta postura se torna necessária nestes tempos sombrios onde se assiste a todos os instrumentalismos, num contexto de um quase certo regresso da direita ao poder. A confraternização ou homenagem ao Nuno serviu de pretexto para o lançamento de o livro Confronto, Memória de uma Cooperativa Cultural. Porto 1966-1972, de Mário Brochado Coelho ( Ed. Afrontamento, 2011), que comprei de imediato.
Ora, na sua intervenção o autor afirmou (estou a falar de cor), aliás de forma pouco elegante, que não haveria nenhuma história sobre a luta dos católicos progressistas contra a ditadura, além do livro da sua companheira de mesa, Entre as Brumas da Memória. Os Católicos Portugueses e a Ditadura (Âmbar, 2007), de Joana Lopes.
Além de este último ser, como o título o define, um livro de memórias, como aliás muitos outros (todos muito bem-vindos), aproveito para preencher a lacuna deixada por Mário Brochado Coelho, por ventura por ignorância ou esquecimento, e deixar aqui algumas referências incontornáveis para qualquer um que queira fazer a história da oposição política ao Estado Novo. Faço-o, para ir contra o hábito muito português de se parecer estar sempre a começar tudo de novo e não se reconhecer que somos devedores do que já outros fizeram antes de nós. Faço-o também porque, curiosamente, se trata de um tema já consideravelmente estudado e analisado.