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De banhas da cobra e iliteracia química

Há uns tempos fui contactada por um dos editores do site PouparMelhor, a propósito de um artigo que, em termos muito suaves, explicava não ser verdade que uma determinada banha da cobra, com a acção mística/alquímica nas ligações C-H supracitada, pouparia em média 20% de combustível.

 

Aparentemente, os senhores que vendem a dita cuja banha da cobra não gostaram, como é normal num certo tipo de charlatães, e, depois de atafulharam a caixa de comentários do referido post com obras primas da literatura e pérolas redondinhas de ignorância química, partiram para o que também é a norma neste tipo de gente: as ameaças legais. Neste caso, felizmente sem sucesso, e, espero, com todos os inconvenientes do efeito Streisand.

 

Já desmistifiquei um ror de dispositivos que, "cientificamente" comprovado, permitiriam poupar uma percentagem absurda de combustível, por efeito quântico (todos os charlatães simplesmente adoram a quântica), magnético ou afins, mas é a primeira vez que ouço falar no princípio de Van der Waals para semelhante desiderato.  Aliás, embora o nome do Nobel da Física de 1910 abunde no léxico científico, de equações de estado a forças intermoleculares, é também a primeira vez que ouço falar em tal princípio.  Lendo a propaganda da coisa, qualquer que seja o Tech porque a designam, Super ou Mole, não me admira muito:  quem escreve o número assombroso de dislates sem pés nem cabeça nos 450 caracteres que se seguem nem deve fazer ideia o que seja ciência - embora use e abuse do falacioso (pseudo*)argumento de autoridade científica para impor respeitabilidade à sua banha da cobra.

 

 

E a seguir o quê, o professor Karamba nas previsões económicas?

 

Digam-me, please, que aquele "tabled" não quer dizer que foi o único português na comissão de agricultura o co-autor desta proposta totalmente imbecil que propõe um financiamento de 2 milhões de euros para homeopatetices para vacas e demais quadrúpedes.

 

Mas se quiser dizer mesmo isso, digam-no em suaves prestações, a primeira vez que vi a notícia pensei imediatamente que era da Onion ou afins, confirmar que a única "brincadeira" é a que os eurodeputados  pregaram aos contribuintes europeus já foi mau, descobrir que foi mesmo um português a propor este obscurantista desperdício de dinheiro será demasiado mau para uma só vez.

Campanha 10:23 e ciências ocultas

Sábado pela manhãzinha esta vossa escriba reuniu-se no jardim do Principe Real com um grupo de gente simpática e empenhada em informar o público sobre o que é de facto a homeopatetice. O lema da campanha, 1023, honra a constante que tem o nome de Lorenzo Romano Amedeo Carlo Avogadro (1776 — 1856), o físico italiano que distinguiu átomos de moléculas e que propôs que  «iguais volumes de todos os gases, nas mesmas condições físicas, contêm o mesmo número de partículas». A constante de Avogadro, 6, 022X1023, é o número de átomos ou moléculas existente num mole de uma determinada espécie química. O seu significado nesta campanha é muito simples: não se pode diluir nada mais vezes que o número de moléculas inicial porque simplesmente não há moléculas que cheguem. Se eu tiver 100 pães para distribuir só posso dar um pão a 100 pessoas, não consigo alimentar os cerca de 7 mil milhões, 7x109, de habitantes da Terra, mesmo que acredite que só o aroma do pão é suficiente para encher a barriga porque nem o cheiro chega a todos. As moléculas são como os pães: a não ser para quem acredite em milagres, não há fenómeno de multiplicação de moléculas.

 

Os desvarios homeopatetas ou açúcar a 1700* euros o kilo

No próximo sábado, pelas 10H23, um grupo que se reuniu no Facebook, no qual, como seria expectável, me incluo,  vai juntar-se no jardim do Prícipe Real numa acção de sensibilização da opinião pública sobre a homeopatia, no âmbito de uma campanha internacional. A acção vai ser uma overdose de açúcar ou antes, de «medicamentos» homeopatetas, não recomendada a diabéticos.

 

Oscilo patetices ou o pato de vinte milhões

Nos últimos tempos e por razões que me ultrapassam os nossos media têm feito propaganda em doses nada homeopatetas ao Oscillococcinum, que, supostamente, seria a panaceia ideal para a vulgar constipação, na realidade uma banha da cobra, perdão, pato, dos laboratórios Boiron, os tais que recentemente quiseram comprar «respeitabilidade» para a sua charlatanice financiando a universidade de Zaragoza.

 

Penso que não seja segredo que se há charlatanice que me maça é a homeopatetice, pelas razões evidentes. E, por muito que se explique o que é de facto a homeopatetice, persistem uma série de lendas urbanas que importa desmistificar sobre a coisa alimentadas pelos que lucram, muito, com as banhas da cobra. Contrariamente ao que pensam os que a apresentam - em conjunto com «medicinas (?) alternativas» com nomes vagamente orientais, como Hado, Johrei ou reiki- como alternativa à depreciativamente denominada medicina ocidental ou convencional, a homeopatetice é um produto genuinamente ocidental e muito pouco «tradicional». De facto, a homeopatetice foi «inventada» em 1796 por um médico alemão, Samuel Hahnemann, e nunca foi tradicional em lado nenhum.

 

Incapacidades metafísicas

seminario portugal V.M. Hach Ben Faqui (2) from metafisica cosmica on Vimeo.

Quem leu o livro de Carl Sagan de que falei no post anterior, «O Mundo Infestado de Demónios», está familiarizado com Carlos, o suposto espírito de 2000 anos que «possuía» Jose Luis Alvarez e lhe transmitia a sua «sabedoria» milenar. Na realidade, «Carlos» era uma experiência conduzida por James Randi em conjunto com o programa «60 Minutes» australiano cujo objectivo era demonstrar quão fácil é fabricar um «psiquíco» de sucesso em apenas uma semana.

 

E o resultado da experiência superou as expectativas. Em poucos dias, «Carlos» era sensação em terras australianas, convidado em programas nas estações de maior audiência do país. Alvarez não teve falta de clientes para a tralha que acompanha estes supostos psíquicos, no caso «cristais curativos», as suas lágrimas e livros - incluindo um folheto intitulado «A sabedoria de Carlos», que debitava em péssimo inglês «verdades» profundas como «A gravidade não é difícil de explicar; podem ver que é mais fácil as coisas caírem para baixo que para cima». Centenas de australianos foram assistir à sua apresentação, na Sydney Opera House, da qual saíram convencidos da autenticidade de «Carlos».

 

Homeopatetices na Universidade pública em Espanha

Acabei de saber no Facebook que a Universidade (pública) de Zaragoza decidiu oferecer uma cadeira de Homeopatetices no seu curso de Medicina. De acordo com o docente que a leccionará, a cadeira, paga pelo laboratório homeopateta Boirón, servirá, supostamente, para suprir a ignorância em homeopatetices dos médicos (?) formados na Universidade.

 

Como é óbvio, o desiderato da Universidade mereceu fortes protestos por parte de todas as pessoas com dois neurónios funcionais que se mostraram justamente indignadas com a possibilidade de ver «ensinada» numa Universidade pública algo que mais não passa de charlatanice obscurantista. Uma vez que Zaragoza é destino frequente de muitos estudantes portugueses que não conseguem entrar nos cursos de Medicina nacionais, apelo aos nossos leitores para que subscrevam o «Manifiesto por una Universidad libre de pseudociencia y oscurantismo» no Peticionpublica.es.  Os que quiserem confirmar que a homeopatetice é uma banha da cobra potencialmente perniciosa podem consultar alguns posts que escrevi sobre o tema. Aconselho em particular o post Charlatanices e SIDA - Uma história de horror.

Coisas Estranhas

Neste vídeo podemos apreciar o fundador e editor da revista Skeptic Magazine em grande forma na conferência TED2010, que decorreu entre 9 e 13 de Fevereiro em Long Beach, Califórnia. Os videos estão disponíveis online na página da TED ou no canal Youtube da TED. Nesta conferência, o historiador e divulgador de ciência norte-americano abordou um tema que já desenvolvera na TED2006 e  num  livro traduzido em português e editado pela Replicação “Por que acreditam as pessoas em coisas estranhas?”.  A resposta é simples: embora, estranhamente,  alguns representantes das humanidades afirmem que a ciência não tem nada a ver com cultura nem com civilização, acredita-se nestes disparates por falta de uma cultura científica enraizada e generalizada.

A origem de outras espécies

Imagem: Courtesy of the Wheaton College Special Collections

Já por aqui escrevi uma série de posts sobre o bicentenário do nascimento de  Charles Darwin e os 150 anos da publicação da obra que mudou o mundo, A Origem das Espécies. Mas este ano assinala-se também outro centenário que, embora cada vez na ordem do dia, passou despercebido a muitos. 1909 foi o ano em que dois magnatas do petróleo, Lyman e Milton Stewart, contrataram o teólogo  A.C. Dixon para editar uma série de livros intitulada The Fundamentals: A Testimony To The Truth.

 

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