Alterações climáticas e aquecimento global
Nope, não vou falar daqueles do IPCC, embora recomende a leitura de um artigo do Guardian de ontem, «The case for climate action must be remade from the ground upwards», que explica como, na sequência do ClimateGate e das críticas a exageros de que há bem pouco tempo a Nature nos deu conta, a «ciência do clima está sob cerco e a política do clima em desordem». O clima de que importa falar é o clima político e um fenómeno que o El Niño financeiro dos últimos tempos está a tornar global: o descrédito da política e dos políticos.
Assim, recomendo vivamente outro artigo em língua inglesa, o que Rachel Sylvester escreve hoje no Times, «They’re all ignoring political climate change», que poderia, sem grande esforço de adaptação, ser utilizado para descrever a situação nacional. Assim como, sem grande esforço de adaptação, o que respondi a um comentário ao primeiro post sobre o ClimateGate, descreve o que penso sobre a fuga de informação do momento em Portugal:
«A questão do aquecimento global transformou-se num debate político e por isso mesmo tornou-se histriónico. A verdade não parece importar aos dois lados da barricada; só importa ganhar o debate e impor um ou outro modelo de sociedade. Daí que seja tão importante a análise científica séria, e não politizada, nem instrumentalizada. E também daí que seja desastroso, nesta altura do campeonato, que se venha lançar dúvidas sobre a atitude cientificamente séria e rigorosa de alguns, e apenas alguns, dos intervenientes neste debate.
Só li alguns dos emails e, a serem verídicos, não fiquei muito bem impressionada com alguns excertos sobre peer review e retaliações editoriais sortidas sobre os denialists. Espero que não sejam verídicos porque estou certa que a serem, dado o histrionismo do debate e a sua globalização na sociedade, isso trará consequências graves para a própria ciência mas em particular para a sociedade em geral ».
Mais importante que tudo isto, a resposta que o opinador do Guardian nos dá para resolver a crise de credibilidade do IPCC e, por arrasto, das alterações climáticas por efeito antropogénico aplica-se praticamente sem necessidade de adaptação a estoutra alteração do clima político: é necessário que a sociedade civil, todos nós - indivíduos, organizações e empresas - deixemos de ser meros espectadores de coros dissonantes (e histriónicos), peguemos no bastão e nos envolvamos na harmonização da orquestra.