Bill O'Reilly, o «tradicionalista» da Faux News, demonstrou recentemente a sua sagacidade matemática «explicando», a propósito da reforma no sistema de saúde que Obama pretende implementar - e vale a pena ler o «All the President’s Zombies» de Paul Krugman sobre o tema -, que não é verdade que a esperança média de vida seja maior no Canadá que nos Estados Unidos. O que se passa é que há 10 vezes mais americanos que canadianos e, pelos vistos, a estatística baralha-se com grandes números. Não acreditam? Ora ouçam e confirmem a burrice do senhor!
Num post magnifíco, a Irene reproduz alguns dos argumentos da «utopia dos valores» que me fazem votar PS nas próximas eleições e que tentarei elaborar em próximos posts. Foi por uma questão de valores, utópicos alguns certamente, que sempre votei à esquerda, mas num primeiro post importa recordar que nestas eleições se discutem igualmente valores distópicos, manifestos em «discursos pessimistas, raramente "flertando" com a esperança».
E como a distopia dá título ao post, nada melhor que invocar Sinclair Lewis, o primeiro escritor americano a ser galardoado com o Nobel da Literatura, que ficou conhecido pelas suas distopias intemporais que, paradoxalmente ou não, continuam a ser excelentes caricaturas das sociedades actuais. De facto, em vésperas de eleições, algumas das intervenções laranja recordam-me o Babbitt (1922) - uma sátira à cultura de «massas». Ou antes, fazem-me pensar nos Babbits nacionais, figuras insípidas e convencionais, rodeada de outras figuras insípidas e convencionais, que vivem em negação, perdidos entre dois mundos e não aceitando que o mundo que gostariam de impor aos outros está morto para sempre.