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Donde se conclui que não há jornalismo de ciência em Portugal

Ontem não houve jornal que não destacasse um relatório do ISEG, encomendado pela Comissão Europeia, sobre a eficiência das Universidades (aqui, em formato pdf). Alguns, como o i, certamente sem lerem o dito relatório, efabulavam sobre a ineficiência das escolas nacionais que, afirmavam sem corar, com a «enorme» quantidade de dinheiro que recebem do OE deviam ter produzido o triplo, em publicações científicas e em alunos formados.

 

Claro que, convenientemente, aqueles que se atiravam que nem gato a bofe ao Ensino Superior - sim, o estudo mete no mesmo saco Universidades e Politécnicos apesar de não se dar por isso no que foi escrito nos media - esqueceram, entre outras coisas, de mencionar a timeline do estudo, de 1998 a 2005. Ou antes, parece que quem noticiou o relatório, curiosamente publicado em Novembro mas só agora, que se discute o Orçamento de Estado, elevado a glórias de primeira página, não se deu ao trabalho de o ler e se entreteve cherry picking alguns dados de tabelas sem perceber o que estes significam nem como foram calculados.

 

Ouçam pois o António, o presidente do Técnico, explicar algumas coisas.  É algo a que voltarei certamente este fim-de-semana, com tempo, mas para já gostaria de enfatizar algo que é dito na entrevista, por exemplo que uma das escolas europeias mais prestigiadas, a EPFL, que escolho porque tem indicadores, como o número de artigos científicos por docente, comparáveis aos do Técnico, tem metade dos alunos e um orçamento estatal que é cerca de 7.5 vezes maior que o nosso (recebem do estado suiço cerca de 370 milhões de euros, o Técnico recebe, números redondos, 50 milhões).

No topo do ranking das escolas: o "meu" colégio Mira Rio ou o meu mergulho no opus dei

Ontem passei os olhos por aqui e fiquei a saber que o colégio que frequentei entre os 3 e os 14 anos ficou este ano no topo do ranking das escolas. Cada pessoa é um mundo. Cada pessoa tem a sua experiência. Os pais são livres, naturalmente, de escolherem a escola dos seus filhos. Mas nem sempre os filhos, quando são pequenos, bastante pequenos, contam aos pais o que os amedronta. Lembro-me da provocação do C. Hitchens ao perguntar se a religião é abuso de menores. Às vezes é. No Mira Rio onde cresci, nunca ouvi falar de um deus misericordioso, de um deus pai, nunca ouvi falar de amor. A religião foi-me essencialmente incutida por duas vias: a via dogmática, que se traduzia em muito cedo já saber declamar as provas extra-bíblicas da existência de cristo; e a via do medo, esta muito eficaz, porque o pecado, venial e mortal, nas suas consequências, se não sanados, eram ilustrados até à náusea. Insistia-se bastante no limbo, mas, sobretudo, e este é o aspecto fulcral do meu Mira Rio, havia uma atenção doentia, por parte do colégio e do preceptorado, aos pecados da carne. De resto, os sacerdotes do opus dei ajudavam no terror. A primeira aproximação que tive às consequências do fenómeno do desenvolvimento (futuro) do meu corpo e da minha cabeça pecadora foi a explicação de que o dito corpo era o templo do espírito santo. Ora, o templo não pode sentir o que quer que seja. Isto foi terrivelmente explorado ao ponto de ser convocada uma reunião com a directora do colégio no dia em que a mesma entendeu que nós, a minha turma, já teríamos sido visitadas por um acontecimento que inicia fatalmente a inclinação para o pecado da carne, de resto bastante provocado por uma espécie que nos era estranha - os rapazes. Esse acontecimento era a menstruação. Sim, ele foi-nos explicado em associação com o pecado. A tarde estava amena, eu era muito pequena, mais do que as outras, e pela primeira vez na vida percebi a dor da diferença. É que eu ainda não era menstruada. Eu nunca tinha pensado em sexo. Quando a directora desatou a falar no fenómeno sanguinário, no pecado, na gravidez fora do santo matrimónio, na propensão masculina para nos atrair para o pecado, senti-me uma ilha e, claro, comecei, nesse dia, a pensar em sexo. Na confissão, precedida de uma lista de presença pública semanal, recebíamos uma folha com os dez mandamentos e para cada um sugestões de pecados. Assim, o nosso exame de consciência seria induzido e mais completo. No sexto mandamento, o fatídico da castidade, perguntava-se, por exemplo: demoro-me, no banho, a contemplar o meu corpo? Lembro-me de ser muito nova e de pensar demoradamente nesta pergunta. Lembro-me de tomar banho em dois minutos para não pecar. E lembro-me de pensar demoradamente noutras perguntas do mesmo calibre. Tal como na inquisição, a sugestão é tão minuciosa que a criança acaba por acreditar que fez aquilo, mesmo que o não tenha feito, e que se o fez cometeu o tal pecado digno do fogo que a virgem maria fez a graça de mostrar aos três pastorinhos e que a professora nos deu a ver ilustrado num desenho. O sacerdote fez-me perguntas de uma minúcia que nunca vi, como advogada, serem feitas em tribunal. O meu corpo, o corpo de uma criança, foi escrutinado atrás de uns quadradinhos de madeira, o confessionário. Havia também a professora sofia, que depois de uma asneira grande que fiz com 9 anos, vendo-me comungar, me levou para uma sala fechada e explicou-me que eu recebera do corpo de cristo em pecado mortal. Convenceu-me, sem apelo nem agravo, de que estava condenada ao inferno. Passei muitas noites da minha quarta classe a adormecer com medo, com uma ideia da esperança de vida, tendo a minha por inútil, já que fatalmente condenada ao inferno. A professora sofia torturou-me de muitas outras maneiras. O ensino era bom? Sim. Havia professoras boas?  Sim. Havia boas pessoas? Sim. Fiz amigas e apesar de tudo, com elas, recordações felizes? Claro. Mas às vezes a religião é abuso de menores. Este é apenas uma parte do meu relato pessoal. Não é um relato de ensino de sucesso. Aos 14 anos fui para a escola pública. Fiquei em choque durante um mês. Descobri rapazes, pobres,  ateus, conflitos sociais e debate livre de ideias. Ao mesmo tempo, descobri outros católicos. Católicos que me falaram pela primeira vez em amor em vez de pecado, em perdão em vez de castigo, em fazer em vez de apenas rezar. Descobri, com esses católicos, a acção social. Descobri que há um deus de todos que a todos ama e que a todos aceita. Na verdade, um pai, que nunca, por natureza, renega um filho. Foi assim. na escola pública, no meu Rainha Dona Amélia, que não ficou no topo do ranking das escolas, que me deram a dimensão de pessoa.  Mais tarde disse adeus a deus. Mas sem mágoa, porque foi de outro deus que me despedi.

O futuro do país não pode ser entregue só a políticos, economistas e gestores

    

(Clique nas imagens para aumentar. Em cima, discurso do reitor da UTL. Em baixo, à direita, o reitor da UTL, o presidente cessante, Carlos Matos Ferreira, e o novo presidente, António Cruz  Serra. Na imagem à esquerda, João Sentieiro, presidente da FCT, entre os membros do Conselho de Gestão)

 

Continuando a reflexão que o post do Filipe despoletou, ontem, durante o discurso de tomada de posse do novo presidente do IST, eu, de amarelinho na foto de baixo à esquerda, e o João Sentieiro, de ar perplexo e braços cruzados, ficámos a saber que o ministro das Finanças cativou 2 milhões de euros da verba inscrita para a contratação dos doutorados do programa Ciência 2008 - que, numa manifestação que só posso considerar de esquizofrenia aguda,  foi lançado pelo mesmo Governo a que pertence Teixeira dos Santos. Ou seja, por um lado, via FCT e MCTES, o governo lança um programa louvável a todos os níveis, pelo lado do MF, corta metade do  financiamento para esse mesmo programa, pelo menos no Técnico.

 

Ver mais... )

Humboldt e a educação para a cidadania

O post que a João refere horrorizou-me tanto quanto a ela. Enquanto escrevo as minhas lucubrações sobre o tema, recordei um post que escrevi em tempos no De Rerum Natura e que recupero para se perceber melhor o que quero dizer no próximo.

 

Os dois irmãos Humboldt, Alexander e Wilhelm, foram figuras que marcaram indelevelmente a história do que hoje é a Alemanha. Testemunhas do colapso das monarquias absolutas na sequência da Revolução Francesa, ambos ajudaram à construção de uma nova Europa, Alexander destacando-se pelo seu trabalho nas ciências naturais e o seu irmão nas ciências sociais e na educação.

Aristocratas educados no espírito de Rousseau e da escola filantrópica, integraram o circulo de Weimar na companhia de figuras como Schiller ou Goethe. Schiller, o grande poeta da liberdade, teve um impacto profundo em Wilhem, que passou pelo menos dois anos em contacto estreito com o poeta. Em meados de 1794, Wilhem von Humboldt mudou-se com a família para Jena para ficar perto de Schiller, que detinha uma cátedra de história na universidade local.
 

A saga afegã

No seguimento do ataque cobarde a quinze estudantes da Mirwais Nika Girls High School em Kandahar, Shiulie Gosh da Al Jazeera fez uma pequena investigação que confirma o que tenho escrito na Jugular, que o Afeganistão continua refém da religião e dos talibãs que a impõem. A sinopse do programa:

 

There are far more children in Afghan schools now than during the time of the Taliban government.
But the education system is under threat. Schools are becoming targets for violent attacks.
In the past year, more than 140 teachers and students have been killed.

PISA 2006 -Em busca do paradigma perdido


A primeira recolha de informação do PISA, - Programme for International Student Assessment - teve como principal domínio de avaliação a literacia em contexto de leitura e o PISA 2003 incidiu especialmente sobre literacia matemática e teve como domínios secundários as literacias de leitura e científica, assim como a resolução de problemas. O PISA 2006  incidiu sobre literacia científica e contou com a participação de 57 países, que respondem por cerca de 90% da riqueza mundial. Em Portugal, o PISA envolveu 172 escolas (152 públicas e 20 privadas), abrangendo 5109 alunos. A análise das “Competências científicas dos alunos portugueses” no âmbito do Pisa 2006 está disponível na página do Gabinete de Avaliação Educacional do Ministério da Educação.
Entre 2000 e 2006 os resultados pouco variaram, ou seja, continuamos abaixo da média e na cauda da OCDE. Na realidade, numa primeira análise, parece ter-se agravado o fosso do desempenho de acordo com a origem socio-económica do aluno, que em Portugal apresenta um peso mais relevante que na média dos 57 países analisados.

Literacia Científica

Uma vez que a educação está na ordem do dia, recupero dois posts que escrevi há cerca de um ano no De Rerum Natura. Ambos os posts abordam as performances dos alunos cá do burgo em testes internacionais - que permitem aferir  a qualidade do ensino português.

O projecto PISA, lançado em 1997 pela OCDE, visa monitorizar os resultados dos sistemas educativos, avaliando as competências e conhecimentos de alunos de 15 anos, nomeadamente as literacias matemática, científica e de leitura.
O primeiro ciclo do PISA decorreu em 2000 e envolveu 43 países enquanto o PISA 2003 contou com a participação de 41 países, incluindo a totalidade dos membros da OCDE.
Os resultados nacionais foram desastrosos, verificando-se pouca ou nenhuma evolução no desempenho dos estudantes portugueses entre as duas edições.

No relatório de 2000 (ficheiro pdf) é indicado que «O ambiente familiar aparece também como relevante para as aprendizagens dos alunos», situação que não se altera em 2003. Isto é, os resultados do PISA 2000 e 2003 (e ainda mais os de 2006) corroboram o que disse ontem o Rui Tavares na Sic Notícias sobre a rigidez  do nosso sistema social, ou seja,  em Portugal a escola não cumpre o seu papel social. 

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