Os julgamentos de Judas
A inenarrante Bíblia tem dois finais para o traidor mais famoso da História, que, de acordo com Mateus 27:5, se suicida, «E Judas, atirando para o templo as moedas de prata, retirou-se e foi-se enforcar», ou tem um fim acidental um pouco mais macabro, agora no livro dos Actos 1:18: «Depois tombando para frente arrebentou ao meio e todas as vísceras se derramaram».
Como refere um artigo da New Yorker, «Betrayal: Should we hate Judas Iscariot?», há cerca de 2 mil anos que Judas é julgado e condenado sem apelo nem agravo pelo seu crime «bíblico». A situação começou a alterar-se com a descoberta do Codex Tchacos, que contém, entre outros textos, o Evangelho de Judas, um dos muitos evangelhos apócrifos*, mencionado por antigos autores eclesiásticos, por exemplo Ireneu, no seu tratado Contra as heresias, (1, 31, 1), Epifânio ou Teodoreto de Ciro. A National Geographic, que se envolveu no restauro e tradução do Codex, tem um site dedicado ao Evangelho de Judas muito bem documentado (e disponibliza todo o texto) que permite perceber esta alteração no julgamento popular de Judas.