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Nos 40 anos do assassinato de José António Ribeiro Santos, por elementos da PIDE/DGS, em 12 de Outubro de 1972...

 

 

 

Em 12 de Outubro de 1972, ocorreu um assassinato que marcou toda uma geração de jovens: o do estudante da Faculdade de Direito de Lisboa, José António Ribeiro Santos, então militante do MRPP, perpetrado por dois agentes da PIDE/DGS, no Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras (ISCEF), em Lisboa. Maria Teresa Beleza, então colega de Ribeiro Santos, escreveu, em Outubro de 1992, no vigésimo aniversário da sua morte, um texto publicado no jornal Público, que aqui reproduzimos.

 

 

Ribeiro Santos: Lachrimae antiquae novae[1]

Teresa Pizarro Beleza

 

Recordo-me como se tivesse sido ontem. Acabávamos de almoçar pacatamente na “sala amarela” de nossa casa e o meu irmão Miguel, na altura recém-licenciado e jovem assistente no então chamado ISCEF (“as Económicas”) chegou e disse, consternado: “Houve uma grande confusão na faculdade, a polícia andou aos tiros, mataram um tipo, parece que há também feridos.”

 

É preciso recuar a Outubro de 1972 para perceber o transcendente significado de uma notícia destas. Marcelo Caetano “piscava à esquerda e virava à direita”, como se ironizava no milieu e ele próprio, se bem me recordo, comentou numa Conversa em Família na televisão. Que curioso e educativo seria produzir uma série em vídeo com essas conversas e mostrá-las aos nossos estudantes universitários, lembrando-lhes, por exemplo, que aquele ilustre administrativista dizia a quem o quisesse ouvir que o curso de Direito não era para Senhoras (é claro, ele diria assim, com maiúscula). Julgo que o disse em pleno exame oral de Direito Administrativo à minha irmã Leonor, se a memória me não trai. Hoje, a população discente é maioritariamente feminina e as carreiras jurídicas foram todas abertas às mulheres, há uns escassos 20 anos, a idade das minhas alunas de agora, que olham para mim como se eu tivesse aterrado de um qualquer Marte ou como se eu fosse contemporânea da primeira República (supondo que sabem o que isso seja...) quando eu lhes conto que iniciei o curso com todas essas carreiras vedadas por lei ao meu sexo. A distância estética do cenário e da pose do então chefe de Governo no ecrã em relação aos nosso “parâmetros” de agora — o que, bem conheço o risco, permite revivalismos saudosistas caros a alguns meninos e meninas da nossa praça política e jornalística... — pode provocar um “inconveniente” (porque desfocante!) efeito de Verfremdung, mas também proporcionará, porventura, uma noção tão realista quanto possível da vertigem que foi a mudança de tantas coisas em metade das nossas vidas.

 

 

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