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jugular

Um dia destes

Não tem piada, pá. Talvez um dia destes venha a ter. Li e disseram-me hoje que tinhas partido. Assim inesperadamente, sem avisares ninguém e sem dizeres exactamente para onde ias e, sobretudo, quando voltavas. Haha, está bem, quando te apanhar vais contar-me essa. Um dia destes.

Conhecemo-nos virtualmente, num chat, no início do milénio, numa altura em que essas salas (algumas, pronto) eram laboratórios de escrita, de humor, de psicanálise e, sobretudo, de muito gozo, onde as pessoas trocavam cromos, piadas, taras, assumiam identidades mais ou menos irónicas e utilizavam nicks e pseudónimos que eram exercícios de esquizofrenia. Just for fun. O prazer da escrita e do jogo virtual fizeram-me então perder muitos serões e ganhar muitas gargalhadas.

Conheci-te a ti e a mais um grupinho de gauleses irredutíveis e com todos criei laços que atravessaram o tempo e extravasaram o contacto pessoal ou, como no teu caso, a falta dele. Acho que te vi pela última vez há mais de dois anos, quando lançaste o livro no El Corte Inglés. O tempo não importa, nunca importou, a minha amizade nunca viveu disso e a tua, presumo, também não. Tu estavas lá e eu estava cá. Porque há laços assim. Mais tarde partilhámos um blog com pessoas e amizades forjadas no mesmo forno; um não, dois, se bem te lembras, sendo o segundo a coisa mais divertida da blogosfera e que havemos de retomar. Um dia destes.

Sempre retive o teu humor refinado, a tua escrita elegante, a tua ironia sempre presente e assim como deve ser, com o pH no ponto certo, na dose exacta, sem ser forçada. Tinhas sempre um aparte, um algo a ver, um comentário a propósito. Conhecias muito, viajavas mais. Soube de pedaços da tua vida, uma novela, um enredo, uma riqueza e uma bizarria. Tenho para ali um texto que uma vez me mandaste e que, disseste na altura, haverias de publicar. Quando te conheci demonstravas conhecer, sobretudo, o mundo dos Balcãs. Depois percebi que não era um saber livresco, era uma sedimentação de um contacto profissional mas que maturava e produzia reflexões e opiniões fundamentadas e sensatas. Mais tarde apercebi-me ainda que não era só os Balcãs era também, pelo menos, a América do Sul. Da última vez que soube de ti, estavas no Brasil a cobrir as eleições. Voltaríamos a encontrar-nos um dia destes. Hoje disseram-me que não. Mas eu sei, e há quem saiba bem melhor do que eu, que foste apenas em mais uma viagem, uma de entre muitas que já fizeste. Hás-de contar como foi, o tempo não importa, nunca importou antes, não será agora. Um dia destes, não é? Até lá, fica a saudade, um nó na garganta e uma vista embaciada. Agora metia aqui uma música triste para ilustrar, mas isso seria coisa de despedida. Como terminei um certo post, uma vez, em réplica a um teu, termino este: "'Té logo, ó chouriço."

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