Após ter escrito umas linhas opinativas sobre os critérios do concurso 7 Maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo e ter tecido algumas considerações acerca da candidatura do “centro histórico de Malaca” ao mesmo, quero terminar com algumas palavras sobre o texto de apresentação que consta na página. Na minha opinião, um texto destes deveria ser cuidadosamente redigido e primar pela clareza, pelo rigor e pela informação correcta. Talvez começando por identificar de forma nítida os locais, monumentos ou edifícios que integram a candidatura, apresentando informação útil e rigorosa sobre o interesse e valor histórico e patrimonial dos mesmos e, por fim, traçar um quadro sintético sobre a importância e relevo da cidade em questão ao longo dos tempos. Talvez ainda se justificasse uma meia dúzia de referências bibliográficas essenciais ou um pequeno fundo documental em arquivo. Nada disto está lá. Ao invés, apenas um texto com um arranjo atabalhoado de dados desconexos, ou imprecisos, ou errados, ou irrelevantes, ou ainda desnecessários. Quando não disparatados. O texto é assinado por Pedro Dias, pomposamente identificado como “Professor Catedrático de História de Arte da Universidade de Coimbra”. Talvez fosse preferível e mais útil um pouco mais de informação clara e correcta e um pouco menos de aparato académico, aliás inútil. Teria sido bem mais sensato entregar a responsabilidade dos textos de apresentação a vários especialistas de cada uma das áreas ou cidades, ainda que simples mestres, licenciados ou leigos, em vez de conceder todos eles a um único nome, ainda que dotado de cátedra da mais antiga universidade portuguesa.
Após alguns comentários acerca do concurso 7 Maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo, os seus critérios e o caso específico da inclusão de Malaca na lista de nomeados, passo a tecer algumas considerações sobre a situação presente do “Centro Histórico” da cidade, que é a designação oficial na nomeação. A página das 7 Maravilhas apresenta uma galeria de fotos que é, a todos os títulos, caricata, se integrada num conjunto de dados reais sobre o alegado património português da cidade. Na verdade, quase nada do que lá existe hoje é português ou de origem portuguesa, quase nada do que os portugueses edificaram em Malaca sobreviveu até aos nossos dias. O que resta, visível, é uma e apenas uma coisa: a Igreja de S. Paulo, no cimo do monte, de que só restam paredes em mau estado e algumas placas tumulares, e nem todas portuguesas.
No próximo 10 de Junho serão escolhidas as 7 Maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo, de entre um leque de 27 nomeados. Como é sabido, esta iniciativa surge na continuidade de idêntica competição sobre 7 Maravilhas de Portugal que, por sua vez, foi a versão nacional das 7 Novas Maravilhas do Mundo. Nada tenho contra a realização de concursos deste tipo. É verdade que não tenho especial simpatia pela escolha de 7 em número nem grande entusiasmo por uma eleição deste género. Concedo, todavia, que, se é algo que melhora a imagem global de Portugal no exterior, se promove e divulga a história da presença portuguesa no mundo, se contribui para um melhor conhecimento do passado e, sobretudo, se constitui uma mais-valia para o futuro, nada de muito sério há a obstar. Não deixo de lamentar que o interesse pelo património rico e diversificado que os portugueses deixaram pelo mundo esteja circunscrito a operações de marketing destas, de impacto visual, mediático e efémero, enquanto se descura a verdadeira potencialidade, riqueza e diversidade do legado português, a começar pela língua e a acabar nas comunidades de luso-descendentes. Refiro-me, em particular, à Ásia. Mas isso são outros contos. Neste e nos próximos dois posts que dedico ao tema, quero deixar clara a minha contestação aos critérios que presidem ao concurso e as minhas sérias reservas à escolha dos nomeados. Não de todos os 27. Apenas de um: Malaca. Numa palavra, discordo da inclusão de Malaca neste conjunto e lamento a ignorância, o erro, a falta de informação e o equívoco que presidiram a esta escolha, que denota uma flagrante falta de conhecimento, de cuidado e de trabalho. As razões que me assistem, exponho-as em seguida.