De forma excepcional - tenho de o confessar -, assisti hoje a alguns programas televisivos de «feitura da opinião» na televisão portuguesa. Na Sic Notícias, ouvi a deputada do PP, Teresa Caeiro, louvar a política do ministro da Emergência – sorry - da Segurança Social, seu companheiro de partido, pela poupança que, segundo ela, iria haver, ao retirar-se dinheiro injustamente atribuído a beneficiários do rendimento de inserção social, que iria reverter para um aumento (3%) nas pensões de reformados pobres. O esplendor da demagogia no seu melhor.
Depois, ouvi a prestação, na TVI24, de uma jornalista do Público, creio que da secção de Economia, de nome Isabel Ferreira. A jornalista, com aquele ar de objectividade total (como se não estivesse a emitir uma opinião, uma opinião política), disse várias vezes que assim como não era «tempo, no período de José Sócrates, de o Estado investir dinheiro na economia», também não era «tempo de ensaiar medidas neo-liberais», sem ter a noção dos «efeitos colaterais». Isto tudo a propósito do negócio da China relativo à EDP.
Dias não são dias, e tão depressa não vou assistir, por falta de tempo e interesse, a mais comentários pretensamente apolíticos e pretensamente objectivos. É que isto é tudo uma questão de opção política. E eu não concordo com a opção política de um governo de um partido que ganhou as eleições mentindo relativamente ao que iria fazer. Pode-se argumentar que a mentira para ganhar as eleições não é de agora. É verdade. Mas o que está a acontecer é que está a ocorrer em Portugal uma mudança radical de opção política e de paradigma político. E tudo em nome da falta de alternativas.
Pelas razões que se tornarão aparentes ao longo do post, recupero um post que escrevi há ano e meio, adaptando-o ligeiramente à espuma dos dias.
No final do século V a.C., Atenas viveu uma profunda crise económica e política devido à longa guerra do Peloponeso. À rendição de Atenas, em Abril de 404, seguiu-se um golpe oligárquico apoiado por Esparta. A oligarquia que, com o apoio das tropas espartanas, fez cair a democracia ateniense ficou conhecida como a Tirania dos Trinta. Embora a democracia tenha sido formalmente restaurada pouco depois, em 403, o populismo retórico da aristrocracia fez crescer a insatisfação dos cidadãos com a crise económica. A aristocracia culpou a democracia pela crise vivida e exigiu um governo forte que permitisse o retorno à antiga glória e ao poder atenienses. Com a confiança no regime seriamente abalada, no início do século IV a.C. os cidadãos deixaram de participar na Res Publica o que levou a que fossem remunerados os que condescendessem a comparecer às sessões da Assembleia. A Assembleia tornou-se assim o ponto de confluência dos ociosos, dos demagogos e dos cidadãos que nela viam apenas uma forma de subsistência. Décadas de demissão da cidadania por parte dos atenienses e de retóricas ocas por parte de quem queria o poder pelo poder tiveram como consequência que, no final do século IV a.C., a tirania oligárquica vingasse.
Numa altura em que estão decididos 131 dos 166 assentos parlamentares, o partido que tem estado no poder nos últimos 14 anos apresenta já os piores resultados dos seus 80 anos de existência. O Fianna Fail tem 14 deputados, o Fine Gael, centro-direita, 59, os trabalhistas 32, o Sinn Fein 13 seats. Os restantes 14 assentos estão distribuídos por pequenos partidos. Enda Kenny, um político de carreira do Fine Gael, o próximo primeiro-ministro, ficará à frente de um governo que será muito provavelmente de coligação com os trabalhistas.
Há uns tempos escrevi que iria esperar para ver as reacções à mui necessária reforma administrativa de Lisboa. Estas já começaram: «O líder da bancada social democrata na Assembleia Municipal de Lisboa manifestou hoje alguma 'desconfiança' quanto ao novo mapa das freguesias proposto no estudo encomendado pela câmara, alegando que o PSD sai 'largamente prejudicado'».
Ou seja, para António Proa a reorganização administrativa da cidade deve ser regida por interesses partidários e não pelo interesse público. Estamos conversados no que toca a motivações de governação...
Com menos de 50 lugares por apurar, os resultados das muito participadas eleições britânicas de ontem apontam para um «parlamento suspenso» – «hung parliament» -, isto é, uma câmara dos comuns sem maioria absoluta de nenhum partido, algo que não acontece desde 1974. Nesta situação, o primeiro-ministro pode recorrer à prerrogativa constitucional de ser o primeiro a tentar formar Governo embora alguns analistas políticos indiquem que a hipótese mais provável é a formação de um governo minoritário pelos Tories, apoiados pelos unionistas da Irlanda do Norte.
Embora os democratas liberais tenham ficado muito aquém do que se esperava, em lugares ganhos embora não em percentagem dos votos, em Sutton & Cheam conseguiram um lugar inesperado, derrotando uma das estrelas (cadentes, espera-se) dos Tories, Philippa Stroud, a conservadora que, alegadamente, acredita ser possível exorcisar através da oração os demónios dos homossexuais. De qualquer forma, o desfecho destas eleições pode passar pelos LibDems, se Nick Clegg aceitar coligar-se com os trabalhistas, abdicando de uma das suas exigências previamente anunciadas, a demissão de Gordon Brown, aceitando como contrapartida a reforma do sistema político, substituindo a Câmara dos Lordes por um organismo eleito e introduzindo um sistema proporcional na eleição da Câmara dos Comuns.
A edição ao vivo da noite eleitoral britânica começa dentro às 9h55mn, 5 minutos antes do fecho das urnas, às 22h. O sistema de update incorporado permite a actualização automática dos resultados de umas eleições muito disputadas, tão disputadas que os resultados, embora indicando uma vitória dos Tories, continuam imprevisíveis. Entretanto, os tweets que confirmavam essa imprevisibilidade indicando que as sondagens de boca das urnas dos dois maiores partidos eram discordantes - de Martha Kearney, a jornalista que vai apresentar os resultados de hoje na Radio 4 da BBC -, foram removidos da rede social.
Ontem foi dia de debate ao vivo no «Any Questions» da Radio4 (BBC). O anfitrião, Jonathan Dimbleby, discutiu vários temas com Jack Straw, ministro da Justiça da Grã-Bretanha, Caroline Spellman, secretária de estado adjunta do PM no governo sombra conservador, e Menzies (Ming) Campbell, lider dos democratas liberais até 2007.
Um dos temas discutidos foi o episódio 200 de South Park, já aqui abordado. Dimbledy inquiriu os presentes se, à luz da ameaça feita aos autores, se deveria censurar o programa para respeitar as sensibilidades religiosas ou se a liberdade de expressão deveria prevalecer. Se não me espantou nem a defesa da censura pelo ministro do devoto Tony Blair que possibilitou a libertação de Augusto Pinochet nem as meias tintas da representante conservadora, fiquei muito agradavelmente surpreendida com a resposta de Ming. Numa intervenção sem pejos nem tibieza que mereceu um estrondoso aplauso da plateia, Campbell mostrou-se inequivocamente a favor da liberdade de expressão e contra a censura, acrescentando que acredita que a complacência com um qualquer grupo de fanáticos apenas encoraja ainda mais grupos a inventar coisas que os ofendam e a ulular pela sua censura. Como tuitou Ben Goldacre, um dos meus autores favoritos em 2009, «Just when you thought the libdems couldnt get any better, Menzies Campbell defends South Park on #anyquestions». Este debate, demolidor para os trabalhistas, aumentou ainda mais as hipóteses de grandes surpresas nas eleições britânicas de 6 de Maio.
Tenho andado com muita falta de tempo, mas os meus feeds que tanto irritam os Maradona :) têm acumulado tantas referências ao terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos brasileiro ( versão em formato pdf) que resolvi lê-lo para tentar perceber o que de tão repugnante contém que tanto encolerizou tantos.
A primeira impressão que me ficou foi o contraste entre esta manifestação de boas intenções e os quase 7 anos de governo Lula. Nomeadamente, este plano de fomento de políticas públicas com ênfase nos direitos humanos, uma autêntica plataforma de um governo utópico, é pródigo em propostas que visam dar transparência à aplicação dos recursos públicos que nunca sequer foram sonhados ao longo dos dois últimos governos muito menos postos em prática.
O Centro Nacional de Inteligência (CNI) está a investigar o que está por trás dos ataques especulativos nos mercados financeiros contra a Espanha, em consonância com a crise fiscal grega e efeitos de contágio em vários países do sul europeu. A Unidade de Inteligência Económica, criada para defender sectores económicos, comerciais e industriais estratégicos, semelhante à encontrada em outros países europeus, investiga se os ataques dos investidores e a agressividade mostrada por alguns media anglo-saxónicos obedece à dinâmica do mercado e aos desafios da economia espanhola, ou se há algo mais por trás dessa campanha. ( lido no El País).