«Esta é uma lei que se destina a unir, não a dividir a sociedade portuguesa. Esta não é uma lei contra ninguém. Nem sequer é uma lei a favor de alguns: é uma lei a favor de todos. Por isso, quando aprovamos uma lei que vai fazer pessoas mais felizes, é da nossa própria felicidade que estamos a cuidar.»
O PS resolveu inovar e fazer uma espécie de cartazes-discurso, em inovador estilo teaser. Segue-se, acredito, o "abaixo assinados". O último, nas vésperas, assegurará o "Temos dito". Pelo meio teremos a "Causa nossa".
Partindo duma sentença do João Miranda, até há pouco tempo colunista do Diário de Notícias, parto para uma reflexão. De acordo com Miranda: "Jornalista que tem relação de carácter pessoal com político X encontra-se numa situação de conflito de interesses quando defende político X em coluna de opinião."
Imaginemos que o "jornalista" é a Fernanda Câncio e que o "político X" é José Sócrates. Especulemos ainda que ambos têm uma relação (tudo indica que sim, e de ciência certa, uma vez que foram vistos juntos no cinema e vaiados - juntos - na ópera). Aqui chegados, especulemos ainda mais (em jogos infantis especula-se muito). Faça-se de conta que a Fernanda é fulana para se deixar instrumentalizar pelo namorado - é disso que a acusam certo?, melhor, aquilo de que a acusam passa por dar como adquirido tal facto: que a Fernanda Câncio é veículo, instrumento, do namorado, que ela diz e faz o que o putativo apaixonado lhe manda, o que é coisa que realmente se ajusta à sua forma de ser e estar. Nem é preciso conhecê-la, basta lê-la.
Adquirido tudo isto, facilmente percebemos, por exemplo, a forma como a Fernanda se opôs à decisão do PS de votar contra as propostas do Bloco de Esquerda e dos Verdes a propósito da legalização do casamento entre homossexuais. "Por amor", escreveu artigos no jornal, posts no blogue e, pasme-se, ainda e sempre "por amor", até foi obrigada, presumo que pelo namorado, a aparecer no Parlamento em pleno dia da votação. Ao lado, precisamente, dos apoiantes dessas mesmas propostas – as tais que foram vilmente recusadas pelo PS. Concerteza que José Sócrates há-de ter delirado com a atitude da "namorada de", por certo que extasiou com a fidelidade canina que a "namorada de" lhe devotou - deu-lhe, é certo, imenso gozo a forma como a mesma "espécie de jornalismo" que agora se insurge contra a "namorada de" a usou – à "namorada de" - para vender o seu mênstruo do dia seguinte.
Ironias à parte, a questão é simples: em Portugal tudo se resume às medidas pessoais de cada um, aquela espécie de régua lésbica com que, baseados nos nossos preconceitos e vivências, medimos, e vivemos, tudo o que nos rodeia. "Fernanda Câncio escreve sobre o caso Freeport? Fernanda Câncio diz que a investigação jornalistica é fajuta ou anda lá perto? Medindo-a (à situação e à Fernanda) com a minha moldável reguinha [leia-se: se fosse eu], então a conclusão é óbvia: a gaja está feita com o gajo, feita voz do dono". Perfeito silogismo à la porra.
Assim sendo, questiono-me, e para arrumar este tema, será que o mesmo jornalista que tem relação de carácter pessoal com o político X se encontra numa situação de conflito de interesses quando ataca esse político X em coluna de opinião? - sei que atacar e defender são o preto e o branco de uma dialéctica redonda e sem sentido, mas não fui eu que comecei com as palermices.
Como pretendo despachar tudo num post, salto para o caso "jugular: blogue oficial do PS". Durante a semana que passou tive oportunidade de me manifestar, pontualmente, contra as opiniões do Miguel Vale de Almeida, aqui no blogue – acho que está a ver mal a coisa, admitindo que ele pense exactamente o mesmo de mim. Logo se levantaram azuis e democráticas vozinhas, em abuso da tal reguinha, a salivar pela “cisão à vista". Sejamos claros, abomino a política do PS para a Justiça e acho que José Sócrates é o principal responsável pelo descalabro, uma vez que não há-de ter sido a Fernanda a escolher o Ministro da Justiça. Entraram a matar, e de forma demagógica, com a questão das férias judiciais. O processo executivo continua uma lástima e as sentenças continuam a servir para emoldurar e colar na parede. A “nova lei do divórcio” é uma história da carochinha - um belo escape para encontros de contas conjugais com o único fito de fugir aos credores (não vos maço com pormenores num post que se quer generalista). O novo Código dos Contratos Públicos é um labirinto normativo, com rasgos de iliteracia, sem ponta por onde se lhe pegue. O sucessivo adiamento da entrada em vigor de novas leis (o regulamento das custas judiciais é um bom exemplo) é uma vergonha em qualquer Estado que se quer de Direito (mais uma vez, e por pudor, não entro em pormenores, tal é o fastio). Trabalho com três Códigos de Processo Civil ao mesmo tempo. Estive há dias numa conferência onde a oradora principal começou a prelecção com a frase: “até ontem à noite isto era assim, não cuidei de confirmar pela manhã”. Chega para ilustrar a diarreia legislativa. Em suma, tenho razões de sobra para abominar, sequer pensar, em votar PS nas legislativas que se aproximam – sendo a alternativa a que é, resta-me ir à praia nesse dia. Ou então votar PS, que do mal o menos (eu e o centrão, que não somos poucos).
Apesar disto, dizem-me, estou a soldo do Rato. Já fiz por uma medalha, acrescentam outros. A tal reguazinha dos medíocres volta a atacar. Outros ainda, seres estéreis, rasteiros que nem barriga de jacaré, entre metáforas, acusam-me de ser a voz da dona – e aqui a minha dona seria a Fernanda de quem, relembro, Sócrates é dono (há aqui um fenómeno em cadeia). Cata-ventos de barriga de cerveja, que em vez de vento a soprar têm a azia a cuspir-lhes fel. E, ainda assim, continuam a rodar.
Em passando a norma, estava aberto caminho para mais uma forma de precariedade laboral - 180 dias é meio ano e já se salivava com a expectativa, assevero. Como é claro, não podia vingar. Às vezes espanta-me a forma como se se entra em certos jogos - como que para perder de propósito. A não ser, se calhar é isso, que seja para compensar a absoluta e lamentável falta de oposição, à esquerda e à direita.