Terei ouvido bem?
Ouvi bem? Acabo de ouvir Luís Fazenda, deputado da nação, a dizer, na TVI 24, que algumas poucas famílias, que se reproduzem - «essa gente», como lhe chamava Cecília Honório, também autora do livro que estavam os dois a apresentar – sempre foram donas de Portugal, à sombra do Estado. Houve, porém, segundo disse, alguns momentos excepcionais em que isso não aconteceu - no 25 de Abril e quando «Salazar equilibrou um pouco as coisas entre quem detinha as fortunas». Estou, claro, a falar de cor, pois ainda não tive acesso a voltar a ouvir o programa que acabou agora mesmo. E certamente ouvi mal.
Também acho que não haveria ali certamente qualquer espécie de demagogia, ressentimento social ou cópia canhestra do que tanto se criticou no argumento simplista do PCP, anterior ao 25 de Abril de 1974, segundo o qual Portugal era propriedade de cem (dez?) famílias detentoras do capital monopolista financeiro. Monopólio e capital financeiro foram aliás palavras repetidas por diversas vezes por Luís Fazenda. Que fez questão em dizer que nada do que estava a dizer era ideológico, conforme o pivot da TVI 24 tinha sugerido, mas apenas uma constatação de factos.
Devo ter percebido mal, pois certamente que não é possível que um argumento de 24 de Abril de 1974 possa ser reproduzido em 2010. E certamente a crise que vivemos não justifica e permite tudo.
(na imagem:esculturas em bronze produzidas na China, século XVIII, por um jesuíta europeu)