As contradições sucedem-se
No debate do programa de governo, Passos Coelho disse que os números publicados pelo INE revelavam um 'buraco' orçamental de cerca de 2 mil milhões de euros no primeiro trimestre. como se fosse auto-evidente, a existência deste 'buraco' nunca foi demonstrada, apenas repetida por Passos Coelho e, posteriormente, reproduzida pela maioria dos jornalistas, comentadores e analistas e transformada em 'verdade'. Para além de ser pouco provável que esse desvio tenha escapado à Troika (que, para além de se ter reunido com o INE, conhecia todos os números do primeiro trimestre e confirmou que as medidas que constavam do PECIV eram mais do que suficientes para atingir o objectivo de um défice de 5.9% no final de 2011) e do facto de economistas insuspeitos, como Campos e Cunha, Octávio Teixeira e Pedro Lains, terem dito que não se pode olhar para os números do INE e falar em desvio, há um dado que não tem merecido a devida atenção e que põe em causa as palavras de Passos Coelho: a conferência de imprensa de Vítor Gaspar da semana passada. Ora, nessa conferência de imprensa o ministro das finanças desmentiu os valores avançados por Passos Coelho (o 'buraco' passou para metade, mil milhões de euros) e afastou a ideia da existência de um 'buraco' (o imposto extraordinário não é justificado pela necessidade, apenas pela prudência; nas palavras de Pedro Marques Lopes: estamos perante um imposto preventivo). Depois de ter sido desmentido pelo seu ministro das finanças, Passos regressou ao tema e, ontem, repetiu o que tinha dito no debate do programa de governo e, à porta fechada, no Conselho Nacional do PSD. Como se as contradições entre Passos Coelho e Vítor Gaspar não fossem já suficientemente graves, vem hoje a Comissão Europeia dizer que não foi informada de qualquer desvio, mas que, se este existir, não vê qualquer contradição entre esse facto e a avaliação das contas portuguesas feita pela Troika...em Maio. Ou seja, a Comissão quando ouve falar em desvio assume que este nunca poderia ter ocorrido no primeiro trimestre de 2011.