Ainda sobre o Uganda
Sobre a ligação entre os grupos de fundamentalistas evangélicos e os que no Uganda querem a pena de morte para homossexuais, é imprescindível ler e ouvir Jeff Sharlet.
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Sobre a ligação entre os grupos de fundamentalistas evangélicos e os que no Uganda querem a pena de morte para homossexuais, é imprescindível ler e ouvir Jeff Sharlet.
não por ser hilariante mas por ser trágico. Quiçá não te lembres, mas em Março de 2009 o alucinado Scott Lively foi a Kampala na companhia de outros pastores fundamentalistas, Don Schmierer e Caleb Lee Brundidge, para uma série de conferências. O tema do evento era a «a agenda gay - aquela agenda obscura e sinistra» e a ameaça que os homossexuais representam para os valores da Bíblia e da família tradicional africana. O resultado da visita foi a iníqua proposta de lei que pretende condenar à morte os homossexuais do Uganda (aliás, o sonho dos mais fanáticos nos Estados Unidos, como mostra este cartaz que apareceu no evento de Indianapolis, em 26 de Julho deste ano, da National Organization for Marriage "One Man, One Woman").
An American Family Association radio show host has begun promoting legal sanctions for Americans engaging in “homosexual behavior”.
Bryan Fischer, que para além de integrar a associação que representa cerca de 2 milhões e meio de americanos dirige a Idaho Values Alliance, já louvou muito efusivamente o Uganda por resistir à «agenda» homossexual. Não sei se o próximo passo será pedir a emulação das leis do país que lhe mereceu tantos encómios... e que foram inspiradas por seus comparsas na homofobia!
Ontem realizou-se mais um National Prayer Breakfast, um evento que é organizado desde 1953 por um grupo fundamentalista cristão, a Fellowship Foundation mais conhecida, muito apropriadamente, como a Família*.
Desde os seus primórdios, o evento conta com a presença dos mais altos políticos norte-americanos e de alguns convidados especiais (agora foi a vez de Zapatero). Este ano, no rescaldo da publicação do livro de Jeff Sharlet «The Family: The Secret Fundamentalism at the Heart of American Power» e das ligações da Família à iníqua lei que condena à morte ou a prisão perpétua os homossexuais ugandeses, vários grupos, incluindo a Americans United for Separation of Church and State, liderada pelo pastor Barry Lynn, e a Citizens for Responsibility and Ethics in Washington pediram, sem sucesso, que os mais altos responsáveis políticos do país não legitimassem com a sua presença a intolerância e fundamentalismo da Família.
Neste vídeo, “Moses,” um cidadão do Uganda que pediu asilo político aos EUA e que teme pela sua vida se for forçado a voltar ao Uganda, explica o que está em jogo, mensagem reforçada pelo reverendo Barry Flynn que detalha «What's Wrong With 'The Family' And The National Prayer Breakfast».
*Durante a administração Reagan floresceram as células de «Deus» instituidas por Abraham Vereide, uma rede de poder semi-clandestina em que os membros são generais, senadores, pregadores e executivos de grandes empresas, cujo objectivo é a construção do Reino de Deus na Terra com capital em Washington*.
A «Worldwide Spiritual Offensive» destas células dedica-se à expansão mundial do poder americanocomo forma de expansão do Evangelho apoiando, por exemplo, Siad Barre na Somália, Carlos Eugenios Vides Casanova em El Salvador e os esquadrões de morte salvadorenhos e, mais recentemente, Yoweri Museveni, o presidente do Uganda. Aqueles a que muitos chamam a Mafia cristã foram ainda muito activos no combate à ameaça comunista apoiando ditadores como o marechal Artur da Costa e Silva no Brasil, o general Suharto na Indonésia, e o general Gustavo Alvarez Martinez nas Honduras.
Em Março de 2009, três pregadores evangélicos norte-americanos chegaram a Kampala, a capital de Uganda, para uma série de palestras. O tema do evento, de acordo com Stephen Langda, o seu organizador local, era «a agenda gay - aquela agenda obscura e sinistra» -, e a ameaça que os homossexuais representam para os valores da Bíblia e da família tradicional africana. Langda, coordenador da Family Life Network, da estratégia samaritana para África e de mais um ror de organizações cristãs, para vincar bem a urgência da coisa, uns escassos dias depois organizou outro evento em que efabulou ainda mais sobre esta agenda gay obscura e sinistra.
Nos últimos tempos tenho sido supreendida pelas estranhas noções de democracia de demasiadas pessoas. E não me estou a referir apenas a esta afirmação extraordinária de Rush Limbaugh que, «apesar de terem terem maiorias expressivas na Câmara (dos representantes) e no Senado», os democratas «estão a governar contra a vontade do povo». Ou aos malaios muçulmanos que consideram que apenas a maioria pode usar determinadas palavras e os outros têm de respeitar, à força se necessário, esse direito.
Por cá, todos nos apercebemos de que a democracia é um conceito fuzzy para os que afirmam ser uma «ferida democrática» não se referendar os direitos das minorias. Como é óbvio, não há nenhuma motivação democrática neste desejo de limitar os direitos das minorias há apenas uma vontade de impor a todos os seus preconceitos e crenças. O mesmo desejo daqueles que afirmam que, num país democrático e laico, é não só normal como desejável a alocução na televisão pública do cardeal patriarca porque «quando a maioria acredita em algo, seja esse algo o que for, não são a minoria que dita a regra. Ah, coisa que por acaso dá pelo nome de Democracia, conhece?» Conheço pois! Aliás, esse tipo de sentimento pode ser apreciado em todo o seu esplendor no Uganda, onde a maioria cristã quer condenar à morte os homossexuais e onde a maioria responde desta forma às pressões, muito suaves, da maioria cristã norte-americana que inspirou a lei:
O Uganda, um dos muitos países do mundo que criminaliza a homossexualidade, prepara-se para aprovar uma lei anti-homossexualidade verdadeiramente criminosa. Actualmente, as autoridades ugandesas podem condenar a 14 anos de cadeia homossexuais e doentes com SIDA. A nova legislação passa a pena para prisão perpétua ou sentença de morte, no caso de «homossexualidade agravada», e aplica-se mesmo a ugandeses que residam fora do país que, de acordo com o texto da lei, devem ser extraditados para o Uganda para serem julgados. Por outro lado, todos os que saibam de actos homossexuais e não os denunciem arriscam-se a uma pena de prisão de 3 anos no mínimo. Quem de alguma forma «auxilie» homossexuais, seja no aluguer de casas ou quejandos, passará pelo menos 7 anos na prisão. Tudo indica ainda que o Uganda está pronto para cortar relações com outros países e organizações internacionais de forma a poder implementar a nova lei, que foi escrita em resposta a uma campanha dinamizada por igrejas evangélicas, como nos informa o Guardian num artigo que vale a pena ler na íntegra. Vale igualmente a pena ler o « Unmasking Uganda's 'Born Again' Fad» num jornal local, o Independent ugandês.
Rogério da Costa Pereira
Rui Herbon
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