The times they are a-changin’
Quando este blogue definhou, há uns 5 anos, o mundo não era muito diferente de quando nasceu, uma década antes. Já não tínhamos Obama, Sócrates ou Cavaco, mas sim Costa e Marcelo. Tivemos a Síria e uma crise migratória, sim. E já havia Trump, é um facto, desde aquela manhã de novembro de 2016 em que acordei, incrédulo, com a rádio a anunciar que Hillary tinha perdido a eleição. Alguma coisa estava a mudar, e para pior. Depois, e durante 4 anos, oscilámos entre a repulsa e a chacota, mas a aberração parecia ter acabado em 2020, e concluímos que tudo não passara de um episódio de insanidade temporária coincidente com uma pandemia inédita. Anos surreais, encerrados com vacinas e um grand finale a 6 de janeiro do ano seguinte.
Afinal, não. The times they are a-changin’ e o mundo mudou muito desde 2008, ano do início do Jugular. Se por aqui alguém então escrevesse que em 2025 um partido de extrema-direita, xenófobo e populista, teria 50 deputados na Assembleia da República, que a Rússia estaria a invadir a Ucrânia e que o presidente norte-americano proporia evacuar os palestinianos de Gaza, ocupar militarmente o território e transformá-lo numa Riviera, quem acreditaria?
Hoje, as autocracias progridem em todo o mundo. Os EUA elogiam adversários e ameaçam aliados. A extrema-direita ganha terreno em toda a Europa e não tardará a chegar ao poder na Alemanha e em França. Uma nova ordem mundial está em marcha. O fascismo vem aí mas parece-nos um chavão gasto e delirante. O homem mais rico do mundo procede ao assalto das entidades federais nos EUA e nós achamos que é um fait-divers. Trump quer a Gronelândia, o Canadá e o Panamá e nós rimo-nos da piada. O mundo está cada vez mais próximo, mas a inundação tóxica de dados misturados com informação falsa e pura mentira causa-nos confusão e desnorte, depois habituação e, por fim, indiferença e torpor. A aceleração do tempo provoca-nos vertigens. Não é possível viver em permanente sobressalto de indignação, todos nós temos uma vida para gerir e resolver. Preferimos, afinal, celebrar os 40 anos de Ronaldo ou os êxitos da seleção de andebol, porque são sinais de uma sanidade que não queremos perder.
The times they are a-changin’. Pela primeira vez, preferíamos que não. Já pressentimos que, se está a ser mau, o que virá aí vai ser pior. Em 1964, Bob Dylan lançou a canção como um aviso e um lembrete a quem não se apercebia que o mundo estava a mudar rapidamente. Seis décadas depois, o alerta continua a fazer sentido, mas agora em sentido contrário: em vez da adaptação à mudança, hoje é preciso inventar formas de conter a mudança, de modo consciente e ativo. We better start swimmin’ or we’ll sink like a stone.
E porque the times they are a-changin’, é também tempo de ressuscitar este blogue.