Um tratado de psicopatologia
Tenho por prática não "psiquiatrizar" os assuntos nem os sujeitos naquilo que é a vida do quotidiano. Fazê-lo é ética e clinicamente incorrecto por desrespeitar a dignidade dos doentes e banalizar o sofrimento que a doença determina ao próprio e/ou a terceiros, mas também um modo de desculpabilizar as barbaridades que alguns fazem e dizem - fazem-no e dizem-no porque são doentes, coitados, têm desculpa.
Alturas e situações há, porém, em que é impossível não apelar à psicopatologia para conseguir compreender - e o "compreender" aqui em sentido jasperiano - o que está a ser dito. Acontece hoje com as declarações de Jonet ao jornal i. Fico-me pela exemplificação do discurso paradoxal - "Isabel Jonet, disse esta quinta-feira ter a percepção de que a situação financeira das famílias melhorou, “no último ano”, embora haja “um aumento dos pedidos” de ajuda alimentar" - e aproveito para relembrar que uma das características da ideia delirante é ser uma crença absoluta, inabalável pela argumentação, daí a máxima popular "os malucos não se contrariam".