porque não escreveste nada sobre o Vasco Graça Moura?, perguntaram-me esta manhã. é simples: politicamente, Vasco Graça Moura encarnou toda a vida ideais que desprezo, nomeadamente através da sua perseguição a uma suposta "subsídio-dependência" das artes portuguesas em relação ao Estado, com a falta de honestidade intelectual suficiente para passar ao lado do facto de centenas de outras áreas da sociedade viverem realidades idênticas.... apesar disso, VGM dedicou toda a sua vida à Cultura. isso - pelo menos isso - merece-me pelo menos respeito. Vasco Graça Moura (1942-2014) morreu um poeta
Quem como eu nasceu em África pode ter passado muito tempo sem perceber o que foi, como se fez e porque se fez o 25 de Abril. consciente ou inconscientemente, mais ou menos amargamente, a maioria das famílias de portugueses das colónias acabou por viver a consciência da Revolução como símbolo do princípio do fim – um símbolo de perda e não de conquista. naquele meio da década de 1970, muitos dos milhares de portugueses que chegaram a Portugal vindos de África estavam a aterrar sem nada num país pequeno e escuro ao qual tinham já poucas ou mesmo nenhumas ligações. muitos, provavelmente a maioria, não percebiam sequer a política nacional – não tinham vivido a ditadura ou tinham-na esquecido e a convulsão social do PREC, em vez de um caminho rumo à luz, provavelmente não diferia muito, a seus olhos, de uma continuação do estado de alerta da guerra que tinham deixado para trás. de resto, por aqueles dias tinham mais o que fazer do que pensar em política: para eles, era o momento do tudo ou nada da sobrevivência – a luta pela vida era omnipresente e omnipotente. para nós, os filhos, foi um vazio que as escolas também não serviram para preencher quando nomes como o de Salgueiro Maia não constavam dos livros ou chegavam sequer a ser mencionados. Acho que só a partir dos 20 anos comecei a perceber o 25 de Abril. fiz por perceber. e percebi. e não vejo que haja desculpa para que alguém não perceba. o 25 de Abril é todos os dias – é todos os dias que as suas conquistas devem ser exercidas e defendidas, contra tudo e contra todos. e sair à rua hoje e amanhã para celebrar o direito a essa constante luta que é a vida em democracia é um dever, uma responsabilidade de todos os que acreditam na liberdade.
Diz a f. que uma das minhas frases preferidas foi em tempos "em frente, em frente que atrás vem gente!". nada como os amigos para nos servirem de memória. não me lembro. nem me lembro de alguma vez lha ter dito. nos últimos tempos, uma das minhas frases tem sido "os factos tendem a obscurecer a verdade". por exemplo, é um facto que me juntei ao Jugular para escrever sobretudo sobre política cultural. isto parece indicar que ela exista neste momento em Portugal... lá iremos. hoje vim só dizer olá e agradecer ao Jugular por me receber. obrigada. aqui estarei a partir de agora.